Resumo: Regional de Liverpool 2023

No fim-de-semana de 21 e 22 de Janeiro, ocorreu o primeiro regional europeu de VGC jogado em Scarlet & Violet. Durante estes 2 dias, mais de 500 jogadores deslocaram-se a Liverpool para obterem CP de modo a qualificarem-se para o campeonato do mundo. No final, Luca Paz, dos Estados Unidos, acabou por sair vencedor.

Ao mesmo tempo, tivemos 4 portugueses a competir e que obtiveram resultados positivos:

Fomos falar um bocado com eles os 4 sobre como foi a experiência de torneio dos mesmos:

Francisco Coroado

“No passado fim-de-semana participei no regional de Liverpool, o primeiro torneio a que fui depois do mundial de agosto. Confesso que o entusiasmo não era muito, o trabalho e os afazeres da vida acabam por roubar o tempo que costumava ter, não só para jogar, como para me preparar para os torneios.

Esta foi a minha segunda vez a competir nesta cidade e, apesar da falta de prática, tinha a expectativa de igualar ou melhorar o bom resultado que consegui neste mesmo torneio no ano passado — décimo quarto.

O processo de construção da equipa foi o mesmo de sempre, usar Pokémons com boa sinergia defensiva, que me permitem fazer um jogo de posicionamento lento. Para isso construí (com a ajuda do Nuno Rosário) uma equipa que tivesse dois cores que se complementam bem: Grass-Fire-Water e Dragon-Steel-Fairy. Procuro sempre construir equipas com estes tipos em consideração. Acabei por levar: Meowscarada e Dragapult, como Pokémons rápidos com elevado ataque; Volcarona com Quiver Dance, para permitir aumentar os stats e matar os oponentes mais facilmente; Azumarill e Magnezone, pelos seus bons tipos defensivos, velocidade intermédia e capacidade disruptiva; e Hariyama, como suporte. Apesar de ter começado bastante bem (5-1), acabei por perder os últimos três jogos e defraudar as minhas expectativas.

Contudo, o ambiente no pavilhão foi espetacular — a sensação de estar na presença de mais de mil pessoas que partilham a mesma paixão é fantástica. Voltei a ver jogadores internacionais que defrontei em anos anteriores e joguei contra pessoas de todo o mundo. Não só tive oponentes europeus, como também da China e da Nova Zelândia, e este misto de culturas torna esta experiência muito mais enriquecedora.

O ponto alto deste fim-de-semana foi passar tempo com os meus companheiros de viagem: Francisco Esteves e João Veloso. Apesar deles serem uns patifes e não me deixarem dormir como deve ser, desfrutar do jogo que mais amo na companhia de amigos faz com que as memórias que se fazem sejam ainda mais felizes e que recordarei para o resto da minha vida.

Espero que 2023 seja tão bom quanto 2022 e que possa continuar a viajar pela Europa com cada vez mais jogadores Portugueses!

Vemo-nos em Bochum, no mês que vem :)”

Nuno Rosário

“Esta temporada de 2023 é a minha sétima temporada a competir no circuito de VGC. Depois de ter começado por baixo de forma mais casual, e de ter dedicado mais tempo entre 2016 e 2019, decidi que era altura de relaxar um pouco. Apesar de jogar muito menos do que antes, ir a eventos grandes, sejam eles Regionais ou Internacionais, é sempre uma boa experiência. Por isso, decidi participar no Regional de Liverpool e aproveitar para revisitar uma cidade que gosto bastante.

Não dediquei muito tempo a preparar o torneio, o meu foco estava em divertir-me com o jogo, sem pressão de obter pontos ou resultados.

Ao construir a equipa foquei-me em construir algo que me representasse a mim e ao meu playstyle mas que fosse ao mesmo tempo viável, pois ninguém gosta de perder. Trabalhei pouco a pouco na equipa, fui falando com outros jogadores, vendo outras equipas de onde pudesse tirar ideias, e acabei a construir uma equipa à volta de um dos meus Pokémon favoritos, Volcarona. Sempre fui um grande fã dos seus dois (quase) signature-moves, as duas danças: Quiver Dance e Fiery Dance. Sabendo o que queria fazer e depois de verificar se seria viável, procurei construir uma equipa capaz de suportar a estrela principal e ao mesmo tempo sólida o suficiente para responder ao metagame sem necessidade de mudar demasiado, uma vez que não dediquei tanto tempo como costume à preparação. Acabei por decidir os seguintes 6: Volcarona, Azumarill, Salamence, Meowscarada, Magnezone, Hariyama.

O torneio em si correu como esperado. O resultado não foi espetacular, mas não esperava que fosse melhor dada a falta de prática. Venci 4 jogos, perdi 3, todos para jogadores com credenciais a nível internacional. Jogar sem pressão fez-me aproveitar bastante mais os jogos e aprender mais com eles, uma vez que consegui abstrair-me melhor da frustração natural depois de uma derrota. Destaco o meu último set, que me valeu a eliminação da corrida ao top cut, contra o francês Hippolyte Bernard, recentemente coroado com o 9º lugar no Mundial de 2022. Depois de um jogo bastante renhido em que comecei por cima, ele jogou os últimos turnos de forma perfeita, dando a volta à desvantagem inicial. Foi bastante interessante ver como ele foi capaz de pensar vários turnos à frente e identificar o que tinha que fazer para ganhar. Jogar contra adversários melhores é sempre uma boa fonte de aprendizagem.

O ambiente no evento foi bastante agradável, revi muitos amigos que fui fazendo ao longo dos anos e encontrei mais algumas pessoas que apenas conhecia online. A comunidade é bastante grande e é fácil de conhecer novos jogadores e fazer novas amizades. É um dos maiores benefícios de participar nestes torneios, muito mais que o resultado final e os pontos que se podem ou não ganhar.

Decidi não terminar o torneio, uma vez que era esperado que acabasse tarde. Tinha viajado com amigos que não participaram no torneio e decidi juntar-me a eles para jantar e passar algum tempo com eles a aproveitar a viagem. Se gostam de viajar, aconselho a tirarem um dia pelo menos para visitarem as cidades onde vão.

Agora é focar no próximo formato, continuar a trabalhar na minha equipa, corrigir as falhas encontradas, e tentar competir no Internacional Europeu em Londres daqui a uns meses.”

João Veloso

“Este foi o meu terceiro grande torneio depois do EUIC em Frankfurt e do Special de Bilbao ambos em 2022 e notei várias diferenças em relação aos outros, principalmente naquilo que foi a minha prestação e como o encarei em geral. Para começar, sendo eu um jogador de VGC a tentar conseguir o convite para os Worlds há relativamente pouco tempo tendo começado a competir apenas no início de 2020, este foi o meu primeiro torneio SEM d*namax. Sim, insulta-me Rúben. Apesar de ser um novo jogo com o Scarlet/Violet e ainda grande parte dos jogadores estar a aprender a utilizar a nova mecânica de Tera da forma mais optimal, eu senti-me numa desvantagem ainda maior porque apenas competi com Sword/Shield e a sua mecânica enquanto que os jogadores mais experientes já andam nesta vida há vários anos e passaram por vários jogos, mecânicas e metas diferentes e conseguiram manter-se no topo com consistência. Antes de tudo, senti que isto era um teste para mim, para saber se conseguiria manter as minhas relativamente boas prestações de SwSh e continuar a melhorar. Para além disso, e contrariando o que acabei de dizer, foi o major em que fui menos preparado. Tanto em Frankfurt como em Bilbao levei a mesma equipa e sentia-me bastante confiante com ela. Tinha tido coaching com o Eduardo Cunha, estudado matchups, definido flowcharts e a equipa era genuinamente forte e com pequenas variações que a tornavam extremamente difícil de lidar (amo-te Life Orb Modest Regieleki Max Lightning com 140 BP). Já para este torneio o tempo de preparação foi muito menor, a equipa original em que me baseei feita pelo campeão do mundo de 2019 era feita para a ladder in-game e eu fui adaptando mais ao meu estilo e mais adequada para bo3. Passando para o torneio em si, entrei sem qualquer expectativa de fazer um bom resultado. Quis focar-me em jogar sempre ronda a ronda e tentar divertir-me, conhecer outros jogadores e aproveitar um pouco a cidade de Liverpool.

A primeira ronda de todas foi logo muito estranha. Foi o único mirror de Dondozo que apanhei em todo o torneio, mas tinha a vantagem e a lição estudada. Perdi o primeiro jogo num único erro depois de ter estado sempre no controlo, mas tinha a certeza que conseguia ganhar os outros dois jogos e levar a ronda. Acabei por perder logo no segundo jogo graças ao timer e começo o torneio 0-1.

A segunda e a terceira ronda foram parecidas. Foram contra jogadores menos experientes e que acabei por ganhar com algum conforto e honestamente, sem grande história.

A quarta ronda foi especialmente determinante na minha run. Encontrei uma equipa para a qual não estava minimamente preparado e dizer que levei tareia é ser meiguinho. Perdi 2-0 e senti-me bastante impotente no match-up. Estava 2-2 e já na minha última vida quando ainda nem íamos a meio do dia. Se quisesse ter a mínima esperança de fazer top cut tinha que ganhar as 5 rondas que restavam e mesmo assim iria estar dependente de outros fatores. Isto abalou bastante a minha confiança e coincidiu com o intervalo para almoço portanto tive que esperar mais de uma hora pela próxima ronda quando só queria jogar logo para me distrair e tirar aquele sabor amargo da boca com que tinha ficado da última ronda.

Finalmente chega a hora da quinta ronda e tenho que adotar uma mentalidade diferente. A partir de agora não posso ter qualquer expectativa de fazer top cut, só posso jogar para me divertir e se tiver muita sorte ainda saio daqui com algum CP. Ronda a ronda. Esta acabou por ser mais uma ronda que não teve muita história e que honestamente, tirando o facto de ter dado 4 ou 5 crits no primeiro jogo e de o meu adversário ter chamado um juíz por causa disto, pouco me recordo dela. 2-0, vou ter com os meus amigos porque nesta altura estava mais investido na run deles do que na minha e segue jogo.

Sexta ronda. Ronda extremamente difícil e suada. Este match-up, sendo contra uma equipa de hard Trick Room, era muito determinado pelo primeiro e segundo turno. Consegui ganhar o primeiro jogo apesar de ser extremamente renhido e para o segundo jogo sinto que devo adaptar a minha estratégia mesmo tendo o meu plano para o primeiro jogo resultado. Como estou com um jogo de vantagem também senti que tinha margem de erro para fazer jogadas mais arriscadas e ler o adversário. Isto correu EXTREMAMENTE mal e tinha o jogo perdido ao fim dos dois primeiros turnos. Para o terceiro jogo sou obrigado a voltar ao plano original e com bastante dificuldade e mais uma vez num jogo renhido consigo ganhar a ronda tendo apenas uma Volcarona com 2 de HP e uma Meowscarada a 1 de HP no último turno.

Com duas rondas seguidas a ganhar começo a recuperar a confiança perdida. Com apenas mais uma vitória já garanto um record positivo e a possibilidade de fazer CP. Entro para a sétima ronda e encontro um match-up complicado. A minha adversária com Choice Specs Salamence e Murkrow dificultava imenso a estratégia que tentava impor. Consigo ganhar o primeiro jogo com uma read e mato o Murkrow no momento em que ele dá switch-in. Segundo jogo perco porque a minha adversária fez boas jogadas e posicionou-se de maneira perfeita para conseguir o Haze seguramente sem levar demasiado dano. Terceiro jogo sou obrigado a adaptar e levar um gameplan diferente, jogo mais devagar à volta de mitigar o dano com a minha Volcarona e dar enorme dano com o meu Dragon Fang Baxcalibur, dando imenso dano mesmo a Pokémons que resistem Dragon moves. Assim, consegui espalhar dano suficiente pela equipa dela para que depois pudesse limpar com a minha Meowscarada e Dondozo (sem Tatsugiri) atrás.

Neste momento estou 5-2. Já estava contente com a minha performance e até começo a acreditar que é possível dar a volta e fazer top cut. No entanto lembro-me: pensar RONDA A RONDA. Oitava ronda e já há imensa tensão nestas mesas, as stakes são enormes e um erro mata por completo a tua run. O meu adversário estava a usar a típica equipa de rain com o core de Pelliper, Palafin, Amoonguss e um Dragon-type. Geralmente este é sempre um match-up complicadíssimo graças a Haze Palafin, Amoonguss e o dragon-type (Hydreigon ou Salamence neste caso) a dar dano consistente no Dondozo com Draco Meteor visto que o Unaware do Dondozo ignora os stat drops do Draco Meteor então o adversário pode spammar o move exercendo sempre pressão. No primeiro jogo o meu gameplan planeado de acumular boosts de speed no Dondozo com o Tatsugiri amarelo resulta, dando outspeed ao Palafin mesmo em Tailwind e matando antes que ele pudesse dar Haze. No segundo jogo, à imagem da ronda passada, o meu adversário adapta e previne isto, protegendo o seu Palafin com o Amoonguss, conseguindo o Haze e depois controlando o resto desse jogo. Mais uma vez o gameplan de Baxcalibur espalhar dano enquanto é protegido pela Volcarona resulta no terceiro jogo. Aqui a chave foi conservar ao máximo o meu Tera e obrigar o adversário a usar o seu. Como o Palafin dele era Tera Grass ele iria ignorar o Rage Powder da minha Volcarona mas consegui exercer pressão suficiente com o Baxcalibur obrigando-o a dar Tera Steel com o seu Salamente para sobreviver ao Glaive Rush. Com o Tera dele utilizado, pude tranquilamente usar a minha Tera Water Volcarona, completamente treinada em HP e Def, para matar o Salamence com Overheat e anular por inteiro o Palafin que era a sua maior ameaça ofensiva neste momento. 6-2. Já estou mais que orgulhoso da minha viagem e da recuperação mas agora era altura de acabar o trabalho. Só mais uma ronda, só mais uma vitória e garantia top 64 e tinha boa probabilidade de conseguir top 32 e passar ao top cut.

Mas antes disso poder pensar nisso ainda há uma ronda a ganhar. Sento-me na mesa, eu e o meu adversário trocamos umas palavras e umas piadas, foi um bom momento apesar de estarmos ambos sob enorme pressão. Tiramos uma selfie dentro do jogo no Union Circle, trocamos teamsheets e a adrenalina começa a correr.

É uma equipa de rain novamente. Mas desta vez com Tera Grass Choice Band Drednaw. Este único Pokémon era o que me impedia de conseguir limpar tudo com Dondozo. Dou Tera Flying no meu Dondozo prevendo o Tera Grass e Tera Blast dele? Com Tera Grass nem posso dar Rage Powder com a Volcarona. E se ele der Rock Slide? Não tenho maneira de mitigar o dano sem o Dondozo e tenho sempre a probabilidade de levar flinches e confusion do Hurricane do Pelipper ao lado e com Tailwind do Pelipper mesmo 2 Order Ups para speed boost não chegam. O meu primeiro jogo foi apenas abismal. Nunca consegui posicionar o Dondozo e o Drednaw acabou por espalhar imenso dano, quando finalmente o deitei abaixo ele ainda tinha um Life Orb Salamence e Meowscarada para limpar o pouco da minha equipa que restava. No segundo jogo adapto mais uma vez com o Baxcalibur. Com o risco de Ice Shard sempre em cima o Drednaw não pode ir ao Tera Grass, trago o Dondozo sem Tatsugiri como lead ao lado do Baxcalibur para ter a ameaça de dar o boost a qualquer altura e começo a dar target a tudo ao lado do Drednaw. Mais um Tera Steel defensivo no Baxcalibur para resistir ao Salamence e assim conseguir sobreviver tempo suficiente para a rain passar e a Meowscarada limpar com facilidade o Drednaw que tinha passado o jogo todo locked em Tera Blast com Tera Grass com um U-Turn + Ice Shard do Baxcalibur. Jogo decisivo, tudo em cima da mesa. Eu já tinha dado as minhas cartas todas e entro para a team preview sem saber o que fazer. Certamente que ele não ia fazer o mesmo erro desta vez e deixar o Baxcalibur fazer o que quisesse então decido apostar no mind game. Lead de Baxcalibur e Dondozo, primeiro turno troco para Tatsugiri e o Drednaw locka-se em Rock Slide. Perfeito, tenho isto na mão. Dois Order Ups deixam o Drednaw a soro e a esta altura o meu adversário tem que jogar para a win condition dele, que era o Rock Slide flinch e o Hurricane confusion, enquanto que eu tenho que recuperar vida com Rest e assim que matar o Drednaw o jogo é meu. Primeira vez que tento dar Rest…Rock Slide acerta e flinch…segunda vez que tento dar Rest….Rock Slide acerta e flinch…já com pouca vida, num ponto em que o Rock Slide era suficiente para pickar o KO…Rock Slide acerta, Dondozo morre e Tatsugiri leva imenso dano do Hurricane. Está perdido. Por esta altura já não sabia o que fazer, perder assim era demasiado mau para acreditar. Trago o Baxcalibur, Ice Shard picka finalmente o KO no Drednaw e Draco Meteor do Tatsugiri dá à volta de 60% de dano no Pelipper. Entra o Salamence dele que dá Tera Steel, eu também dou para resistir o Draco Meteor, Glaive Rush dá bom dano no Salamence e o Tatsugiri picka o KO no Pelipper. Aqui troco o Baxcalibur pela Volcarona para dar reset ao drop de attack do Intimidate, Tatsugiri acerta mais um Draco Meteor para partir a sash da Meowscarada e morre com honra de um trabalho cumprido para o Flower Trick. 2v2 final e consigo prever o Protect da Meowscarada. Ele dá Hurricane no Baxcalibur à procura de confusion e para o caso de eu dar Rage Powder, Overheat ainda em rain + Glaive Rush matam finalmente o Salamence e está feito. Meowscarada morre para Ice Shard e eu cumpri o meu trabalho. Tive uma fantástica recuperação de 2-2 para 7-2. Estava contente e aliviado e agora tudo dependia dos fatores de desempate.

Infelizmente, quando saíram os standings, vi que não tinha passado ao top cut. Na verdade, fiquei classificado como o pior 7-2 do torneio, muito graças ao meu início horrível. De qualquer maneira só tenho que estar contente pela minha performance e aprendi que há um terceiro fator fundamental quando jogamos nestes torneios para além da preparação e da tua performance no dia de jogo: a tua mentalidade. Ao contrário dos outros torneios em que comecei muito bem (4-1 em Frankfurt e 4-0 em Bilbao), aqui comecei mal mas consegui controlar as minhas expectativas, não ir abaixo com as derrotas e manter-me focado o dia todo enquanto que nos outros torneios quando comecei a perder e a ficar cansado deixei fugir toda a vantagem que tinha acumulado nas primeiras rondas, acabando 4-5 em Frankfurt e 5-3 em Bilbao. Tenham em conta que estes são torneios enormes que duram muitas horas, em Liverpool jogamos desde as 10h da manhã até às 22h da noite. São muitas horas em que o cansaço físico se junta ao mental então é crucial ter força mental para não ir abaixo após uma derrota, para controlar as expectativas e para ser capaz de aproveitar a experiência além do jogo em si. Das melhores partes desta viagem foi estar com os meus amigos Francisco Esteves e Francisco Coroado, conhecer pessoas ao vivo, beber cerveja em Bruxelas enquanto fazia escala na viagem.

Faço só um pequeno à parte para criticar alguns pontos sobre esta experiência. É ridículo pensar que só começamos a jogar às 10h para acabar às 22h quando jogadores de TCG e Pokémon GO começaram muito mais cedo. É ridículo pensar que quando tivemos a nossa pausa para almoço, os jogadores de TCG e Pokémon Go já tinham tido a sua e o catering do evento tinha ficado completamente sem comida. É impensável que ter o score de 7-2 num torneio com mais de 500 pessoas não seja suficiente para garantir o top cut, ainda mais quando damos conta que o vencedor, Luca Paz, teve o record de 7-2. É urgente introduzir um segundo dia de swiss rounds nos maiores regionais. Ainda mais ridículo pensar que com o sistema de CP em vigor sem eventos locais, eu precisaria de fazer o mesmo record QUATRO VEZES para conseguir a qualificação para os Worlds. Para o bem do videojogo, do circuito, para continuar a crescer, para servir como primeiro passo no competitivo para muito jogadores novos é necessário que estes eventos locais voltem. Estes grandes eventos como Liverpool e San Diego estão a ter mais jogadores que nunca, muitos deles novos e não consigo deixar de pensar em quantos novos jogadores no nosso país teríamos nos nossos torneios em Lisboa e no Porto, que querem ter oportunidade de competir mas que não conseguem gastar dinheiro para ir a um evento destes sem qualquer experiência.

Espero repetir a experiência daqui a alguns meses em Utrecht e desta vez não deixar fugir o top cut!”

Francisco Esteves

“O meu nome é Francisco Esteves e este mês participei no Regional de Liverpool. Este evento foi o meu 7º “major”, e depois de ter ficado tão perto dos meus objetivos o ano passado, a minha intenção era ganhar.

Confiante na equipa que estava a usar, uma equipa muito semelhante a várias equipas bem classificadas em San Diego, e confiante em mim próprio, acordei bem disposto e nada nervoso. Sentei-me para a primeira ronda e enquanto esperavamos por instruções dos Judges, tive oportunidade para conversar com um amigo que estava sentado na mesa ao meu lado. Os eventos são sempre uma grande oportunidade para reencontrar e conhecer pessoas.

A primeira ronda foi a mais fácil, tive um oponente não tão experiente no jogo, e o meu Gholdengo facilmente limpou.

Na segunda ronda deparei-me com uma equipa que me dava mais problemas, Armarouge + Indeedee, e perdi o primeiro jogo, apesar de renhido. O mais importante nestes momentos é não desmotivar e visualizar o que podiamos ter feito melhor. Costuma ser nestes momentos em que jogo melhor, quando tenho a sensação de que não posso perder. O segundo jogo foi muito intenso, pois não consegui impedir o meu adversário de usar Trick Room, mas após 20 turnos saí vitorioso. No jogo decisivo decidi fazer uma jogada mais arriscada que correu bem, e o meu adversário desistiu no turno seguinte.

Comecei então 2-0, confiante, relembrando-me do meu início em Milão, e vejo que vou jogar contra o Alex Gomez (Pokealex) na 3a ronda. Não é a primeira vez que calho com um jogador tão experiente, e não deixei que isso me assustasse. Ganhei o 1º jogo facilmente após uma boa jogada no primeiro turno, e enchi-me de confiança. Consigo levar o 2º jogo sempre com uma posição dominante, até que o Garganacl do Alex sobrevive com 1 ponto de vida, e usa Recover. O meu Tatsugiri, que tinha acabado de usar Draco Meteor tinha o seu Special Attack reduzido, e o Garganacl acabou por sair vitorioso. Sabendo quão perto tinha ficado, não podia ser agora que ia perder. O 3º jogo foi simplesmente soberbo, ambos jogamos incrivelmente bem, e o jogo decidiu-se num 50/50 final, onde eu perdi. Preferia ter ganho, mas foi uma derrota que aceitei de bom grado, por ter sido um jogo tão bom contra um adversário de alto nível.

Depois da ronda contra o Alex, dificilmente apanhava um jogador do mesmo calibre de seguida, o que significou uma ronda mais fácil. Consegui ganhar 2-0 rapidamente e isso deu-me algum tempo para comer e ir à casa de banho.

3-1, não era o inicio perfeito, mas ainda era possível.

Na ronda seguinte deparei-me com uma equipa muito pouco usual, com semelhanças às equipas dos meus amigos Portugueses (Baxcalibur + Volcarona). Ganhei facilmente o primeiro jogo, mas a minha adaptação para o segundo jogo não correu muito bem, e ele conseguiu empatar o resultado. No terceiro jogo consegui encontrar uma posição dominante, onde o meu adversário só teria chances de ganhar conseguindo um Double Protect (33% chance). Joguei para isso e consegui a posição, mas infelizmente o meu oponente conseguiu o que precisava. Apesar do Double Protect, a minha posição era tão boa que acabei por ganhar na mesma, mas fiquei bastante assustado.

Na quinta ronda voltei a calhar contra uma equipa de Trick Room, mas desta vez em vez de Armarouge Indeedee, era uma equipa de Farigiraf com Torkoal. Tinha este matchup bastante bem estudado, e como houve alguns problemas técnicos na parte dos Judges, tive uns minutos extra para olhar para a lista do meu oponente e pensar no que ia fazer. Consegui então calcular tudo antes do jogo começar, e ganhei 2-0 facilmente.

5-1, estava a 3 vitórias do meu objetivo.

Nesta ronda o meu adversário era o Miguel Torre (Sekiam), que tinha ganhado em stream numa ronda anterior. Tal como contra o Alex, sabia que tinha as mesmas chances de ganhar como se fosse qualquer outro jogador, e sentei-me na mesa confiante. Infelizmente, a minha estratégia contra a equipa dele não funcionou devido a alterações que ele tinha feito, e comecei a perder o primeiro jogo. No segundo jogo, ambos demos lead de Pawmot, e o dele ganhou o speed tie, usando Fake Out no meu Pawmot e permitindo que o outro Pokémon dele o matasse. Apesar deste turno infeliz, isso deu um turno grátis ao meu Gholdengo, e com a switch depois do Pawmot morrer, consegui converter o jogo numa vitória. No 3º jogo voltamos a levar os Pawmots à frente, e ele voltou a ganhar o speed tie de Fake Out. Desta vez ele decidiu não optar por matar o Pawmot, para não cometer o mesmo erro do jogo anterior. No turno seguinte, decidi atacar o Pawmot dele com o meu, mas novamente perdi o Speed Tie e morri. Frustrado por estar a jogar sempre com um Pokémon a menos, respondi ao pedido de desculpas do meu oponente dizendo que era o jogo que jogavamos. Sabia que estava atrás no jogo, mas ainda não estava decidido em perder. Por estar tão atrás sabia que tinha de arriscar, então acabei por fazer 2 leituras que me puseram de volta no jogo, e acabei por sair vitorioso.

6-1. Sabendo que tinha jogado com 2 jogadores muito fortes, e que estava com um resultado tão bom, estava confiante que se a minha acabasse 7-2, conseguiria top 32 em desempates. Só precisava de mais uma vitória.

Na 8a ronda joguei contra outro jogador muito forte, Federico Camporesi. Tinha uma equipa conhecida, mas o meu plano falhou novamente devido a uma alteração que ele tinha feito. Perdi o primeiro jogo sem ter chances de jogar. No segundo jogo ele fez jogadas muito arriscadas, porque sabia que tinha a vantagem (1-0 no set), e acabou por conseguir capitalizar com um crit. 0-2. Em geral, não foi um bom set, o meu erro de abordagem no jogo 1 permitiu-o a arriscar no jogo 2, e eu não consegui acompanhar.

6-2, última ronda, ainda tinha chances. O meu jogo foi escolhido para ir a Stream, algo que nunca me tinha acontecido. Estava contente por ir a stream, principalmente contra um oponente tão simpático que já tinha conhecido no verão passado. Consegui ganhar o primeiro jogo sem muita dificuldade, e comecei o segundo jogo muito forte. Infelizmente não esperava que o Quaquaval dele sobrevissesse os meus ataques, e ele conseguiu puxar o jogo 2 de volta com boas jogadas. No 3º jogo decidi arriscar com o Pawmot porque achava que ele estaria mais preocupado com o Gholdengo, mas ele decidiu atacar o Pawmot e perdi o jogo.

6-3, falhei o meu objetivo apesar de ter ficado tão perto. Mais tarde descobri que como os meus adversários mais fortes perderam a última ronda, mesmo que eu ganhasse em Stream teria ficado em 34º, falhando o Top Cut por 2 lugares.

Ir de 6-1 para 6-3 custa, mas é esta frustração que vou aplicar no próximo, para conseguir o Top Cut que por tanto anseio. No entanto, foi muito agradável conviver com pessoas com as quais não tenho oportunidade de estar durante o ano, e jogar contra 4 jogadores tão fortes.

Espero que considerem participar em eventos destes como uma experiencia futura!”